O benzeno, substância presente em toda a cadeia produtiva do petróleo e reconhecida como cancerígena, segue sendo uma das maiores ameaças à saúde dos trabalhadores e trabalhadoras no Brasil. Apesar de décadas de avanços com a criação do Acordo Nacional do Benzeno (ANBz) e das Comissões Nacionais e Estaduais do Benzeno (CNPBz e CEBz), decisões políticas recentes colocaram em risco a vida de quem está diariamente exposto a esse agente químico.
Antes de 1995, sem legislação específica, centenas de trabalhadores adoeceram e morreram por contaminação. Com a criação das comissões tripartites — que reuniam governo, empresas e trabalhadores — foi possível reduzir drasticamente os casos, garantindo diagnósticos precoces, tratamento e prevenção. No entanto, em 2019, um decreto do governo Bolsonaro extinguiu as comissões, interrompendo notificações e dificultando a responsabilização das empresas.
Hoje, sindicatos e centrais sindicais denunciam os retrocessos e exigem:
- a retomada imediata das CNPBz e CEBz, com caráter permanente;
- a manutenção do Valor de Referência Tecnológico (VRT) como parâmetro ambiental de monitoramento;
- o cumprimento integral do Acordo Nacional do Benzeno;
- mais autonomia aos Grupos de Trabalhadores do Benzeno (GTB) nas CIPAs;
- investimentos em tecnologias que eliminem a exposição.
“Não existe limite seguro para o benzeno. A volta do chamado Limite de Tolerância (LT) é uma sentença de morte para milhares de trabalhadores”, alertam os sindicatos.
Do luto à luta
O dia 5 de outubro é marcado como Dia de Luta e Conscientização sobre o Benzeno, em memória do petroleiro Roberto Kappra, morto aos 36 anos em decorrência de leucemia mieloide aguda causada pela exposição. A data simboliza a resistência contra o silêncio e a negligência patronal.
Exposição invisível
O risco não atinge apenas quem atua diretamente em refinarias e petroquímicas. O benzeno também está presente nos postos de combustíveis, afetando frentistas, trabalhadores de lojas de conveniência e até moradores do entorno. Estudos do INCA comprovam que mesmo pequenas exposições diárias provocam adoecimento e aumentam a incidência de câncer.
Responsabilidade das empresas
Outro ponto crítico é a higienização dos uniformes. Pela legislação, cabe às empresas manter roupas de trabalho limpas e descontaminadas. Levar o uniforme para casa ou circular com ele em transporte público significa espalhar a contaminação e colocar famílias e comunidades em risco.
A vida acima do lucro
O Sindipolo se soma à mobilização nacional que cobra fiscalização efetiva, compromisso das empresas e atuação firme do poder público. Benzeno mata, e o silêncio também. A luta coletiva é a única forma de garantir que a vida dos trabalhadores esteja acima do lucro das empresas.